No banco, Petkovic sobrevive às crises no Flamengo

Envolvido nas duas maiores turbulências políticas do clube desde o seu retorno, sérvio mostra força na Gávea mesmo sem repetir as atuações de 2009

Há um fator comum entre a arrancada rumo ao título brasileiro de 2009 e as duas principais crises políticas do Flamengo nos últimos 12 meses. Esse elo atende por Petkovic, ídolo do início da década e que retornou à Gávea no ano passado. Assim como comandou o time na reta final do Nacional, o sérvio teve influência direta na queda de duas diretorias do futebol.

A primeira cúpula a cair, capitaneada por Kléber Leite e Plínio Serpa Pinto, não engoliu a contratação de Pet mediante acordo judicial. Deixaram o departamento. Na semana passada, a pressão política e a omissão em relação às indisciplinas do meia, bem como de outros nomes de peso no elenco, levaram à queda de uma segunda cúpula: o vice de futebol Marcos Braz e o técnico Andrade.

Em meio a tantas mudanças, Petkovic segue no grupo. Não no time, já que continua no banco de reservas nesta quarta-feira, contra o Corinthians, pelas oitavas-de-final da Libertadores. O técnico interino Rogério Lourenço manteve Michael como o responsável pela criação.

Vipcomm

Petkovic vira motivo de título e de quedas de cúpula num Flamengo que vive sucessivas crises

O acordo

A largada para o "furacão Pet" ocorreu em maio de 2009. A diretoria do Flamengo, sob a liderança do então presidente em exercício Delair Dumbrosk, aceitou um polêmico acordo para terminar de pagar a dívida de R$ 18 milhões com jogador, que voltaria a atuar pelo clube para encerrar a carreira.

Nenhum diretor compareceu para assinar o termo, o que foi feito, por ordem de Delair, por uma funcionária do departamento jurídico. A confusão terminou com a exoneração de um dos diretores que criticou o pacto, Ércio Braga, e até hoje o acordo judicial é alvo de análise de comissões de inquérito no clube.

Chegada constrangedora

Pet se aprensentou com Cuca como técnico do Flamengo. A chegada do meia foi constrangedora. Ídolo da torcida, admirado pelos jogadores, o meia resolveu deixar a vaidade de lado e mostrou um comportamento bem diferente de 2001. Mas o vice de futebol Kléber Leite se via impotente e enfraquecido com a contratação imposta de um atleta de 37 anos. Pediu demissão, ao lado do seu escudeiro, Plínio Serpa Pinto, que seria candidato derrotado por Patrícia Amorim na eleição presidencial do fim de 2009. Marcos Braz, ligado a Delair, assumiu o departamento.

Mas o que parecia ser mais uma trapalhada dos dirigentes acabou por dar certo. Em 2009, Petkovic foi decisivo na conquista do Brasileiro, título que não ia para a Gávea havia 17 anos. Gols olímpicos e atuações impecáveis contra rivais na disputa direta pelo título, como Palmeiras, São Paulo e Atlético-MG.

Vipcomm

Assim como Braz, Andrade caiu por não por limites ao elenco do Flamengo

Mas bastaram as boas apresentações para o "velho" Pet reaparecer. Na reta final do Brasileiro, o meia entrou em atrito com o grupo e com Braz. Primeiro, furou um acordo para que não houvesse entrevistas fora do clube em um dos momentos decisivos, o que irritou os demais jogadores. Depois, cobrou de forma áspera, e em momento inoportuno, o pagamento de premiações em atraso. Desde então, o relacionamento com Braz só piorou.

Desgaste com Braz e Andrade

Ciente de que se tratava de um ídolo da torcida, o Braz jogou a "batata quente" para Andrade, sem tomar medidas mais severas contra o sérvio. Como a função de punir, a princípio, seria da diretoria, o técnico também não se posicionou e o problema foi empurrado com a barriga.

Começava, também, o desgaste na relação entre treinador e vice de futebol, que se agravaria no fim do ano com as negociações para renovação de contrato.

Liberado para férias na Sérvia, Pet chegou com quase uma semana de atraso para a pré-temporada em Porto Feliz, no interior de São Paulo, mas ainda com status de titular. A intenção, na época, era encontrar um substituto à altura, em função da idade do jogador.

Sem repetir as atuações de 2009, Pet não se firmou em 2010 e logo passou a externar sua insatisfação. No início de fevereiro, deixou o Maracanã antes de saber se seria sorteado para exame antidoping no Fla-Flu, após áspera discussão com Braz.

O dirigente quis rescindir o contrato do jogador, mas curiosamente acabou convencido a abrandar a pena pela presidente Patrícia Amorim. Petkovic foi apenas advertido e afastado para aprimorar a forma física.

Na semana passada, a mandatária demitiu o dirigente e alegou, entre outras justificativas, que faltou a Braz comando no departamento de futebol, se referindo ao comportamento de Adriano e também do sérvio.

Isolado no elenco

Mas faltava a Pet entrar em atrito com alguém do elenco. A briga com Bruno no intervalo da derrota para o Universidad Católica, no Chile, que deixou o time em situação complicada na fase de grupos da Libertadores, fez azedar de vez a relação de Petkovic com o grupo. No fim de semana seguinte, o meia ficou isolado no ônibus da delegação para o Maracanã, onde a equipe seria derrotada pelo Botafogo na final da Taça Rio, perdendo assim a chance do tetracampeonato estadual.

A partida seguinte, contra o modesto Caracas, da Venezuela, no Maracanã, marcaria a queda de outra diretoria e uma nova prova do prestígio de Petkovic na arquibancada. Mesmo com uma atuação apenas razoável, ele teve o seu nome gritado, enquanto Braz e os medalhões Adriano e Bruno foram insistentemente xingados após o apito final com o empate em 2 a 2. Andrade escapou da ira popular.

Com uma combinação de resultados, o Flamengo se classificou para enfrentar o Corinthians nesta quarta-feira. Andrade e Braz não resistiram às pressões e mais uma vez Petkovic saiu como o grande vitorioso da crise. O seu contrato termina em maio e, mesmo após as turbulências, há chance de renovação.

Fonte> IG Esporte