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Dom - Falamos com Ruud Gullit: 'É uma vergonha para Ronaldo e Adriano'

21/03/2010 08:48

 

Craque da seleção holandesa e do Milan nas décadas de 80 e 90, Gullit falou também sobre organizar a Copa-2018 na Holanda e na Bélgica

Gullit recebeu a equipe do LANCENET! e falou sobre diversos assuntos numa interessante entrevista (Foto: Reginaldo Castro)

Gullit recebeu a equipe do LANCENET! e falou sobre diversos assuntos numa interessante entrevista (Foto: Reginaldo Castro)

 

Em meio ao habitual vai e vem no hall de entrada de um hotel no centro de São Paulo, Ruud Gullit recebeu um exemplar do LANCENET!. Ao visualizar um ícone brasileiro emundial nas páginas do diário, eis que ouvimos dele, para nosso espanto:

– E o gordo? – colocou logo de cara o meia, poliglota, destaque do Milan (ITA) e da seleção holandesa entre as décadas de 80 e 90.

Gullit se referiu obviamente a Ronaldo. E o que parecia um ato simpático, mera brincadeira para quebrar o gelo, ganhou na verdade ar de preocupação e crítica quando ele foi além sobre Adriano, Robinho e Ronaldinho Gaúcho.

 

A postura talvez se deve às responsabilidades crescentes ao longo da carreira. Após abandonar os gramados como jogador, Gullit se aventurou como técnico. Atualmente, ele é jornalista e presidente do comitê organizador da candidatura de Holanda e Bélgica à sede da Copa do Mundo de 2018.

 

A visita ao Brasil foi para obter apoio do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, influente na Fifa. Mas como a De Prima antecipou, o dirigente brasileiro teve compromisso na entidade máxima do futebol justamente no dia 12 deste mês.

 

A aparência de Gullit, que aproveitou a viagem para uma conversa com o presidente da FPF, Marco Polo Del Nero, contextualiza suas novas funções. O dreadlock e o bigode, marcas registradas, são coisas de um passado que ele até gosta de lembrar, mas agora o cabelo é curto, espetado. A barba, bem feita.

O blazer preto, combinando com a calça e os sapatos de bico fino, completam o visual do holandês, que atendeu a reportagem para a conversa ora em português, ora inglês, ora italiano. Tudo sem decoros. Isso sim, característica da época de jogador que ele mantém.

Alessandro da Mata: Por que a visita ao Brasil neste momento?

Como presidente do comitê organizador da candidatura de Holanda e Bélgica para sediar a Copa do Mundo de 2018, estou aqui para fazer com que todos saibam por que devemos ganhar.

Pedro Antunes: E por quê?

Eu acho que é porque somos dois países pequenos e já organizamos a Eurocopa uma vez, em 2000. É uma oportunidade para todos que admiram a Orange (o apelido da seleção holandesa).

AM: O que Holanda e Bélgica podem oferecer à Fifa?

Sabemos que temos uma chance pequena. Estamos competindo com Espanha, Portugal, Inglaterra e Rússia. Mas a Inglaterra já teve a sua Copa (1966) e tem agora a Olimpíada (Londres-2012). Por que eles deveriam ter novamente?!? (risos)

PA: Os ingleses são, então, os maiores rivais na candidatura?

Sabemos que Espanha, Portugal e Inglaterra são os mais fortes. Mas nós nunca tivemos essa chance. Nós mostramos ao mundo como organizamos a Eurocopa.

AM: Como foi a conversa com Marco Polo Del Nero?

Foi interessante. Era muito importante encontrá-lo. É incrível ver como são organizadas as competições em São Paulo. O que para nós é inimaginável. É um estado maior do que a Holanda. São tantas coisas para fazer e queremos aprender.

AM: Quanto vocês projetam gastar para viabilizar a Copa? Quais os pontos fortes da candidatura?

Não é sobre o quanto gastaremos. Somos os únicos que possuímos patrocinadores. Nenhum outro tem. E a decisão da Fifa não será apenas na questão financeira. É um pacote. Sobre a segunda pergunta, a Bélgica é ótima em política. O presidente do comitê olímpico é belga (Jacques Rogge), o presidente da União Europeia (Herman Van Rompuy) também. Nós (holandeses) temos mais bons jogadores.

AM: A Eurocopa de 2000 pode ajudar? Os estádios estão prontos?

Os estádios vão precisar de reformas. Assim como no Brasil e em todos os países que querem sediar uma Copa do Mundo.

PA: Mas vocês planejam construir novas arenas para a Copa?

Só precisamos de 12 estádios, e temos 14. Serão cinco cidades na Holanda e sete na Bélgica. Temos mais estádios do que é necessário.

PA: Você diz que o fato de Holanda e Bélgica serem pequenas é uma vantagem. A Fifa tem sido contrária aos jogos em dois países. O oposto ocorre com o Brasil, quanto à distância. Considera um problema para a Copa do Mundo aqui?

Não acho que é um problema em nenhum dos casos. É muito fácil quando você tem um hotel e de lá, em uma hora, chega ao estádio. Não é um problema quando você está acostumado a viver em um país grande, com viagens de avião. Nossa Copa dará a oportunidade de todos viajarem de carro e trem.

AM: Por falar nisso, o que achou do tráfego em São Paulo?

É inacreditável! Mas esse é um problema para todas as grandes cidades. Na Holanda, não temos tantos carros. Andamos muito de bicicleta, principalmente no verão.

AM: Vamos falar agora da Copa do Mundo de 2010. Você vê favoritos?

Sabemos que o Brasil é o favorito, sempre vai bem no torneio. Assim como a Alemanha, que também vai muito bem na Copa. Espanha, pelo contrário, é boa fora das Copas. Espero que a Holanda se saia bem.

PA: Como vê o time holandês?

Fomos os primeiros a se classificar dentre os europeus. Temos um time forte e com chances de ir bem. Somos famosos pelo jogo ofensivo.

AM: Brasil e Holanda podem se encontrar, novamente, nos mata-matas. Isso preocupa?

Sim, é possível que nos encontremos e, se acontecer, esperamos mandar vocês para casa! (risos) Sério! Para nós, holandeses, o melhor futebol deve sempre vencer.

AM: Em quem você apostaria para craque desta Copa na África?

O Sneijder receberá muita atenção. O Messi, quem sabe o Ronaldinho, o Rooney, talvez o Robinho! Ele não foi tão bem na Europa. Talvez tenha um ‘revival’. Gosto também de Iniesta, Xavi e Drogba. Mas hoje, se eu pudesse escolher um brasileiro para jogar comigo, certamente seria o Kaká.

AM: Como você vê atualmente o Ronaldo? Está sabendo que, nas últimas semanas, o Adriano faltou aos treinos no Flamengo?

É uma vergonha para eles o que está acontecendo. Isso é um absurdo! E como está o Robinho?

PA: Tem desempenhado um bom papel na volta ao Santos.

Hum...

AM: E quanto a Ronaldinho Gaúcho ficar fora da Copa do Mundo por uma opção de Dunga?

Um pecado! (risos)

AM: Qual o melhor jogador que você enfrentou em campo?

Foi o Maradona. O melhor de todos. Nunca vi Pelé jogar, era muito novo. Você me perguntou qual eu vi, e foi Maradona.

PA: E o melhor jogador que esteve ao seu lado?

Van Basten, sem dúvida. Ele fazia gols de maneira simples. Marcava com a cabeça, com os pés. Sempre técnico, criava os próprios gols.

PA: A Laranja Mecânica, de 1974, nunca mais foi reeditada. Ninguém conseguiu imitá-la. Por que isso?

Era uma época diferente. Acho que o Barcelona joga parecido com o que jogava aquele time. A dificuldade é jogar assim por muito tempo. Os adversários se preparam. Antes, nos tempos de Pelé, as equipes atuavam com cinco atacantes. Não dá para fazer mais isso. Naquele momento (1974), o futebol jogado pela nossa seleção era o melhor.

AM: Largou dreadlock e bigode?

Na verdade, quando tenho vontade, vou até o armário e pego a minha peruca e uso... (risos) Por que deveria ter o meu dreadlock novamente? Eu não quero viver muito do passado. Quando eu era jogador, tive a minha carreira, gostava de mudar. Agora, eu estou diferente.

PA: Mas de onde você tirava a inspiração para aquele visual?

Tem muito a ver com o reggae que eu escutava. Gostava muito de Bob Marley, do movimento que ele e outros criaram. Era tudo sobre liberdade. Mas eu ainda tenho algum estilo no cabelo, não?!? (risos) Continuo gostando de reggae, mas gosto de ouvir agora reggaetton e todos os tipos de músicas latinas. Eu sou louco por merengue!

Fonte>Lancenet

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