'Projetos relâmpago não dão certo na natação', afirma César Cielo
04/05/2010 12:12Maior nome da natação carioca e ícone do esporte no país, César Cielo está no Brasil disputando o Troféu Maria Lenk, em Santos. O nadador do Flamengo falou com exclusividade ao EXTRA sobre o atual estágio da natação brasileira. Ele analisou as chances das principais equipes no Maria Lenk e criticou o envio de atletas de ponta para competições como os Jogos Sul-americanos: "A meu ver, são desnecessárias".
Em termos de salários e infraestrutura, como está a natação brasileira se comparada a dos Estados Unidos?
Na verdade, até pouco tempo eu não tinha acesso aos salários do pessoal da natação aqui. Não sabia que rodava nesse patamar. Mas é difícil comparar comigo porque estou fora do nicho dos atletas brasileiros. Tenho meus patrocínios e, graças a Deus, alcancei um nível que me permite assinar bons contratos. Agora, os atletas do Brasil estão bem longe da realidade americana.
E quanto à infraestrutura?
Nossa, aí nós estamos falando da água e do vinho. Não tem comparação. Em toda universidade há uma piscina para se treinar. Infelizmente, no Brasil, você não tem isso. Até mesmo as principais piscinas não são tão boas.
O que você tem acompanhado sobre a natação brasileira? Quem está se destacando?
Nós mudamos daquela geração do Gustavo Borges e do Fernando Scherer para uma comigo, o Kaio Márcio e o Felipe França. E tem ainda tem gente para 2015 e 2016. Eles são bons e precisam competir logo fora do Brasil.
Faz muita diferença competir no exterior?
No Brasil há pouca competitividade e grande parte de nossas piscinas são bem ruins. É preciso dar chance para eles brilharem no cenário internacional e não gastá-los em competições como o sul-americano, que, a meu ver, são desnecessárias para os atletas de ponta.
Acha uma perda de tempo enviar a equipe principal para competições como o Sul-americano?
Sim. Nas competições em que você tem certeza que vai haver uma dobradinha do Brasil, pode perfeitamente enviar um time B, formado por nadadores que normalmente ficam em terceiro ou quarto lugar nas provas dentro do país. Com certeza eles irão mais empolgados do que aqueles que sempre chegam em primeiro. E ainda irão ganhar competitividade.
Quais clubes chegam mais fortes ao Maria Lenk, primeira grande competição do calendário nacional?
Pinheiros e Minas vão brigar pelo topo. Para o terceiro eu tenho minhas dúvidas entre o Unisanta e o Corinthians. Mas também não descartaria o Flamengo. Podemos ficar entre os cinco primeiros.
Em nível nacional, como você classificaria a natação carioca?
Hoje é o terceiro estado do país, atrás de São Paulo e Minas. Mas não adianta querer superar São Paulo de uma hora para outra. Projetos relâmpago não dão certo na natação. Acho que os atletas a partir de agora vão ouvir os clubes cariocas com mais carinho. Antes, só iam para o Minas, o Pinheiros. Não queriam ir para clube de futebol.
Havia preconceito com os clubes de futebol?
Nossa cultura era essa mesmo. Tínhamos receio por não saber como esses clubes estavam tratando a natação. Normalmente eram projetos relâmpago. Então optavamos pelos clubes mais top, que sempre investiram no esporte.
Tanto Flamengo quanto Botafogo e Fluminense dizem que, além de trazer grandes nomes, precisam formar novos talentos. Material humano é o que não falta no Rio de Janeiro. Qual seria, então, o grande desafio para fomentar a base?
Acho que o primeiro passo já foi dado: a busca pelos ídolos. Agora é investir para ter um nível técnico que atenda a toda a demanda que virá pela frente.
Fonte>Jogo Extra
———
Voltar